quarta-feira, 15 de abril de 2015

E quando o diagnóstico não vem...?


Minha ideia era escrever novamente sobre inclusão (de crianças especiais às escolas comuns que não estão preparadas para recebê-las), porém conversando com uma amiga que mora na Suíça, cujo filho de 5 anos de idade já faz terapia a dois anos e vem buscando incansavelmente um diagnóstico, lembrei de inúmeras mães que encontrei durante os anos de trabalho como educadora especial.

Essa mãe, (assim como muitas) luta para saber de fato o que o filho tem, pois como ela mesma afirma: “isso é um direito de cada um”. Mas, mesmo na Suíça, os diagnósticos demoram demais.

E vocês devem estar se perguntando: Por que é tão importante um diagnóstico?

Eu explico: o primeiro e principal ponto, é que o tratamento e terapias são específicos para cada indivíduo. No caso do autismo, por exemplo, existem métodos mais eficientes do que outros, e encontrar um médico que efetivamente entenda o autismo pode ser um obstáculo a ser vencido, pois a menos que este médico tenha tido experiência com a síndrome, é provável que sozinho seja incapaz de ajudar a tratar esta condição. Afinal, não é um simples transtorno invasivo do comportamento que pode ser melhorado ou curado com alguma medicação e poucas visitas ao psiquiatra. É algo que vai além, é uma desordem severa que afeta cada indivíduo de forma diferente e torna cada caso específico e único.

Por isso, se há suspeita de autismo por você, algum familiar próximo ou mesmo o pediatra, é decisivo que a criança seja encaminhada a um especialista para diagnosticar e tratar essas desordens do espectro autista, o que significa que seu filho pode necessitar de mais médicos e profissionais especializados nesta área. Mesmo porque, o tratamento visa trabalhar o todo, e por isso os profissionais devem trabalhar em conjunto, com avaliações periódicas para um desenvolvimento pleno do indivíduo com a síndrome, ou seja, é algo muito mais complexo do que fazer alguns exames e chegar num único diagnóstico padrão.

Em outras síndromes, transtornos ou deficiências, o diagnóstico também pode ser extremamente complexo e demorar anos, às vezes até décadas para ser descoberto. Vale citar que para muitos deles, a medicina já se especializou com o passar dos anos, e já é possível diagnosticar uma “síndrome de Down” (trissomia do cromossomo 21, é uma alteração genética causada por um erro na divisão celular durante a divisão embrionária. Os portadores da síndrome, em vez de dois cromossomos no par 21, possuem três), por exemplo, através de exames durante a gravidez.

As ultrassonografias realizadas no pré-natal podem apontar para a possibilidade de o bebê nascer com síndrome de Down ou outras ocorrências genéticas. Neste caso, a gestante deve avaliar junto com seu médico a necessidade da realização de outros exames para a confirmação do diagnóstico.

Atualmente, os exames mais comuns para diagnosticar a síndrome antes do nascimento, são: a “aminiocentese” e a “biópsia do vilo corial”, que analisam o líquido amniótico e uma amostra da placenta, respectivamente. No entanto, ambos são invasivos e apresentam um risco, ainda que pequeno, de interrupção da gravidez.

Por outro lado, existem também outras síndromes, transtornos e deficiências que a medicina ainda desconhece e pelo fato de acometerem pouquíssimos indivíduos ao redor do mundo, é muito difícil precisar qual o seu diagnóstico ou mesmo quais os sintomas predominantes e característicos de cada uma delas. Um exemplo é a “síndrome de Pitt-Hopkins”, que foi descrita pela primeira vez em 1978 por D. Pitt e I.Hopkins no jornal de Pediatria da Austrália, e o gene que a provoca só foi descoberto em 2007, ou seja, 20 anos depois. Chamado de TCF4, este gene situa-se no cromossomo 18 e desempenha um papel essencial no desenvolvimento do sistema nervoso. Ele ocorre por deleção ou mesmo por uma mutação.

É caracterizada pela deficiência intelectual e atraso no desenvolvimento (moderado a grave), problemas respiratórios e oculares, convulsões ou epilepsia (40%-50%), constipação intestinal, características faciais distintas e comportamento alegre. E apesar de a prevalência geral ainda ser desconhecida, um laboratório americano estimou que a frequência de deleções associadas ao cromossomo 18q21 é de 1 em 34.000 / 41.000. Outro pesquisador considerou a probabilidade de 1 em 200.000-300.000.

Desta forma, a incidência desta síndrome não está limitada a um determinado grupo, e pode atingir tanto homens quanto mulheres. Atualmente foram diagnosticados cerca de 350 casos no mundo e no Brasil, temos apenas seis já confirmados.

Assim como esta síndrome, existem inúmeras outras desconhecidas totalmente pela medicina e acometem crianças, jovens e adultos, por isso, o quanto antes é iniciado o acompanhamento médico, com especialistas unidos para investigar todos os sintomas, mais rápido pode vir o diagnóstico ou mesmo um tratamento que venha aliviar os sintomas.

A medicina depende de casos complexos para se especializar e desvendar certas “doenças” no intuito de chegar a uma possível cura ou melhora significativa no estilo de vida de cada paciente, mas para que isso aconteça, é preciso ter muita perseverança e paciência.

Para o diagnóstico de crianças com suspeita de necessidades especiais, algumas especialidades médicas podem ajudar e serem uma porta de entrada de um possível tratamento. Nesta lista estão: o neuropediatra, o psiquiatra infantil e em casos mais específicos médicos geneticistas que provavelmente irão investigar cada parte do corpo (físico, mental e emocional) da criança e solicitar exames que vão desde os mais simples como de sangue, eletroencefalograma, tomografias e ressonâncias magnéticas, até um mapeamento genético que pode demorar a ter um resultado. Vale lembrar que para cada suspeita diagnóstica, é solicitado um exame diferente.

Senti um pouco disso na pele, quando meu filho com apenas 6 meses de idade foi diagnosticado erroneamente com “APVL” (Alergia a proteína do leite de vaca e seus derivados), e foi tratado assim até 1 ano de idade. Após muitas idas e vindas do hospital, descobrirmos o verdadeiro diagnóstico cerca de um ano depois, que era na verdade imunodeficiência (problema de imunidade), e depois do início do tratamento correto, ele já não adoecia com tanta frequência, chegando aos 3 anos super bem.

De certo que no caso das síndromes ou deficiências intelectuais como disse acima, não são tão simples de serem diagnosticadas e as terapias corretas trazem melhoras substâncias na vida da criança e da família. Por isso, converse com o pediatra e nunca aceite o primeiro diagnóstico. Investigue e procure outras opiniões, isto é fundamental.

Para devido fim do conhecimento de todas as mães, e responsáveis por crianças especiais ressaltamos que existe no Brasil um benefício previdenciário chamado: “BPC/LOAS” (O Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência - BPC/LOAS corresponde à garantia de um salário mínimo, mensal, à pessoa com deficiência, que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e também não possa ser provida por sua família), que visa auxiliar nos gastos com as despesas médicas, medicamentosas e terapêuticas deles. Afinal, poucos terapeutas e centros especializados têm a agenda disponível, os que têm são caríssimos, e os seguros de saúde não são obrigados por lei a cobrir tratamentos psicoterapêuticos, que é como se trata boa parte das síndromes e deficiências intelectuais. Até por isso um diagnóstico consistente pode ajudar, pois é necessário comprovar a real necessidade do benefício e para isso muitas vezes são agendadas perícias médicas junto ao INSS. Inclusive, é importante se informar sobre todos os direitos e benefícios oferecidos a quem sofre com tais necessidades.

No link abaixo, é possível tirarem dúvidas de como procederem para usufruírem do benefício “BPC/LOAS” citado acima e darem entrada junto à previdência social.


Para mais informações sobre os direitos sociais para os autistas, o link abaixo pode ser esclarecedor!


Por último, afirmo que as mães precisam de um diagnóstico para o problema do filho não somente para terem um nome a dar ao problema que sofrem, para poderem explicar (mesmo que pra si mesmas) o motivo de tais reações, mas principalmente para acalmarem seus corações! Afinal, o diagnóstico nem sempre é fácil e algumas síndromes ou deficiências são raras, para essas inclusive, o fato de não haver respostas concretas é demasiadamente angustiante. Contudo, essas mães e familiares, precisam que o diagnóstico venha.

Obs.: seguem abaixo outros links que podem servir para esclarecer dúvidas acerca das síndromes citadas no artigo.

è Saiba as diferenças entre síndrome, transtorno, doença, sintoma e sinal: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/doenca_transtorno_sindrome.htm

è Síndrome de Pitt-Hopkins, o que é, características e diagnóstico: http://www.pitthopkins.com.br/

è Síndrome de Down, o que é, características, diagnóstico e tratamentos: http://drauziovarella.com.br/crianca-2/sindrome-de-down/

è Artigo sobre sequenciar 1% do DNA para diagnosticar doenças raras: http://www.apmps.org.br/site/index.php/noticias/320-sequenciar-1-do-dna-para-diagnosticar-doencas-raras

è Centros de referência no atendimento e tratamento de crianças especiais em São Paulo, temos: o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas-USP: http://icr.usp.br/default1.aspx e AACD: http://aacd.org.br/ . Também as AMAS (em caso de autismo): http://www.ama.org.br/site/web-link-da-ama/138-instituicoes.html e APAES (especializadas predominantemente em síndrome de Down): http://www.apaesp.org.br/Paginas/default.aspx

*Por Jan.M e Bruna C.M.


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