sexta-feira, 5 de junho de 2015

Mãe de UTI


Já tinha sido avisada que gravidez gemelar é sempre um risco, para as mães e para os bebês. Pensava que estava preparada, mas nada - nada - te prepara para enfrentar a UTI neonatal.
Minha médica dizia “Se nascerem de 37 semanas já é uma vitória. Normalmente nascem antes. Se prepara!”. E eles vieram antes mesmo, com 35 semanas a bolsa estourou e fomos para o hospital no meio da noite.
Desmentindo as medidas satisfatórias da última ultrassonografia, as crianças nasceram abaixo do peso esperado e foram direto para a UTI.  Sim, a gente sabe que a unidade de tratamento intensiva é o melhor lugar para eles estarem naquele momento, mas a gente também sempre espera que chegue logo a notícia de que vão ficar ali por pouco tempo. O que nem sempre acontece. Mãe de UTI vive horas longas.
Mas as vive intensamente. Ainda em recuperação pós-parto, as dores físicas incomodam, mas é o emocional que machuca mais. Diante da incerteza, da impotência e da incapacidade diante da realidade, resta fortalecer à fé. É preciso acreditar para não esmorecer. Mãe de UTI reza.
Mas também age. A rotina de visitas à UTI, ainda durante a internação, é bem puxada; as mamadas acontecem de 3 em 3 horas, dia e noite. Durante os intervalos o tempo corre mais rápido; é para tomar a medicação, se alimentar, tirar leite no lactário e descansar os olhos. Mãe de UTI não dorme.
Mas desperta amizades. Conversa com as outras mães como amigas de infância, conhece cada história... e a cada luto, chora; e a cada alta, abre seu melhor sorriso. Mãe de UTI é solidária.
Mas ainda assim é solitária. Receber alta sem levar o bebê para casa é quase desesperador. É preciso respirar profundo para buscar o ar no fundo do peito e manter a calma. Não que lavar a alma com lágrimas não seja permitido.
Mães de UTI vivem um dia de cada vez.
*Por Cinthia F. - siga nossa página no facebook clicando AQUI e apertando o curtir.

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