sexta-feira, 15 de maio de 2015

Metamorfose


No que a sua vida mudou depois da chegada de sua primeira filha?
Não existem apenas mudanças. Mudanças são transitórias, temporárias e podem ser revertidas em qualquer tempo. O que acontece com uma moça que se torna mãe é uma transformação, uma metamorfose.

Eu era uma jovem moça casada e nove meses depois eu já era uma jovem senhora casada e mãe.

Antes, mesmo casada, às vezes recebia cantadas e olhares dos homens nos lugares que ia. Muitos inclusive quando descobriam que eu era casada, diziam: que pena! Cheguei tarde! Nossa, que desperdício... Sabe, tirando a inconveniência disso, me sentia até lisonjeada, me sentia bonita, viva e valorizada!

Entretanto, só sendo casada não tinha notado nenhuma mudança drástica em mim. Refiro-me ao meu corpo jovem, cheio de curvas longilíneas. Um par de seios bonitos, uma bunda arrebitada, algumas celulites e estrias, é claro (afinal de contas toda mulher normal tem). Mas mesmo assim me sentia uma moça atraente. E a única diferença que encontrava entre mim e as moças ao meu redor, era ser casada e apesar disso, eu era uma jovem normal.

Nove meses depois, me tornei mãe e as preocupações com a vida já eram totalmente diferentes. Posso dizer que a futilidade do meu ser morreu para dar lugar a uma mãe dedicada e constantemente preocupada com o bem estar da filha.

Não durmo um sono pesado há 2 anos, acordo de hora em hora durante a madrugada para saber se minha filha respira tranquila, se não está febril ou mesmo com calor. Não degusto mais os alimentos da forma com que fazia antes, pois desde que me tornei mãe só me preocupo em alimentar a minha filha, se ela comeu bem, se comeu um pouco de tudo que coloquei no prato, se ainda está com fome, com sede... O sabor, a textura e a beleza do que é colocado no prato, já não são mais o principal pra mim. Interesso-me muito mais por comidas saudáveis, com nutrientes, fibras, vitaminas que irão fazer bem a ela.

Hoje, eu já não me arrumo mais. Antes, eu era conhecida como a boneca “Barbie”, todo dia com uma roupa diferente, sempre seguindo a tendência da moda, com maquiagem perfeita, cabelo impecável. Mesmo trabalhando cedo, fazia questão de levantar no mínimo 1 hora antes do horário normal para tomar banho, lavar o cabelo, secar e fazer cachos nas pontas. Tingia-o religiosamente de 15 em 15 dias e nunca andei com a raiz do cabelo aparecendo. Inclusive, condenava as mulheres que encontrava na rua com o cabelo mal pintado e dizia: como tem coragem?
Até pra ir à padaria me maquiava e penteava o cabelo!

Hoje, não entendo como conseguia fazer todo aquele ritual. Maquiar-me e pentear o cabelo da forma como fazia antes, só em pensar me sinto exausta! Não tenho mais ânimo e nem disposição para tanto.

Vou à padaria todo dia com a mesma cara de ontem, cara de: desculpe, é o que estou podendo oferecer no momento. Sinto não ser tratada da mesma forma que antes, falta um quê de dignidade em mim e já não recebo mais aquele agrado do rapaz que corta os frios como antigamente: quer experimentar um pedaço do queijo, moça? Isso ficou pra história! Hoje ele corta o mais rápido possível pra chegar a vez da próxima pessoa da fila! (risos)

Ando pelo mercado feito uma louca de moletom e Havaianas. No cabelo, o penteado mais 
incrível do momento: o bom e velho “Coque” e saio às compras.
Antes, ir ao mercado era uma terapia, comprava molhos especiais para fazer jantares especiais para o marido, investia num bom azeite e na dispensa sempre tinha um bom vinho para acompanhar as massas.

O setor de cosméticos era o meu paraíso! Ficava longas horas lendo os rótulos dos shampoos, condicionadores, finalizadores... Sempre saia de lá com pelo menos dois ou três produtos novos pra testar.

Hoje, meu marido até brinca dizendo que parece que estamos treinando para correr a maratona! Não podemos demorar em corredor nenhum, não só por causa do tempo que é curto, mas porque nossa filha passa derrubando TUDO o que está nas prateleiras. O corredor de desodorantes é uma tortura! Ela derruba um a um como se fossem pinos de boliche. O de biscoito, então, nem se fale! Ela pega todos e vai enfiando no carrinho, e ao mesmo tempo vamos tentando tirar o que ela está pondo e isso vira uma pequena disputa. Tenho certeza que o rapaz do circuito de câmeras deve ter nossos rostos numa lista negra e somos tidos como: baderneiros para o mercado. (risos)

Nunca mais fiquei 1 minuto completo no setor de cosméticos. Comprar shampoo é assim: esse é pra cabelo oleoso, põe no carrinho e bora para o próximo item da lista.
A prateleira do banheiro que antes arrebentava por causa do peso, hoje tem espaço até para pendurar os brinquedos de banho. É um shampoo e um condicionador para os dois (eu e o meu marido), e o shampoo da nossa filha. Antes tomávamos banho cada dia com um sabão diferente, enquanto hoje é um sabão liquido pra família toda! E VIVA às embalagens tamanho família!

Como podem perceber, hoje sou outra pessoa. Não dou mais tanto valor a mim.
Hoje valorizo e priorizo a minha filha, se ela está bem tratada, se está bem alimentada, limpa, saudável, bem vestida. Se o sapato combina com a cor da blusa. Se está preparada para a estação do ano que está por vir, se tem casacos para o inverno ou vestidos para o verão. Enquanto eu, bem, eu nem tenho mais guarda-roupa! Soco minhas peças numa cômoda e quase sempre uso as mesmas peças. Tenho 2 calças que uso com frequência e 1 para ocasiões especiais. Tenho vestidos da época que as festas era a minha vida, mas nenhum que imprime mais a personalidade que assumi me tornando mãe.

As lindas saias rodadas e curtinhas que exibiam minhas belas pernas, hoje já somam o guarda-roupa de outras pessoas, pois ao sair da maternidade já fiz a limpa e doei boa parte das roupas de “cocota” que compunham o meu closet. Aliás, hoje já não me sinto à vontade de saia, mesmo as mais comportadas, pois as marcas que a maternidade fez no meu corpo estão à mostra para todos verem. As estrias, as celulites, a flacidez e as melasmas...

Hoje tudo se transformou, foi uma verdadeira metamorfose.
Por fora, posso parecer mais velha e menos formosa. Mas, por dentro me sinto melhor, me sinto provedora, me sinto educadora, me sinto instrumento formador de um novo ser com sua personalidade própria, ideias, atitudes e sentimentos que vão além dos meus, mas que ao mesmo tempo são fruto de tudo o que de melhor eu ensinar e proporcionar a ele.
Hoje me sinto mãe, e ao menos com isso me sinto satisfeita, pois meu corpo antes cheio de curvas esculturais hoje nutre de amor um ser que foi formado de e em mim, é parte do que fui e do que sou e levará à posteridade um pedaço, o melhor pedaço de mim.

*Por Bruna C.M.


4 comentários:

Unknown disse...

Ai e como me identifiquei, tb tenho duas calças e um delas é de moleton☺️. Claro que tem dias que me incomodo, mas quando o penso o pq e tudo que vivo com a Helena, logo passa. 😍😘😘😘

Ari Guedes disse...

Bru, você escreve muito bem! Embora me dê ainda um pouco de medo de ser mãe, rsrs, amo leituras do tema! E ainda mais amo textos ecléticos, que vão do humor à emoção no mesmo espaço, parabéns pela excelente escrita! :*

All About Supermarkets disse...

Verdade Claudinha!

Esses dias meu marido até brincou dizendo que se deixar, minha calça de moletom vai sozinha no Wallmart, já sabe quais os corredores passar e até o que comprar! kkkk

Não vejo a hora de aposentá-la, mas por ora ela está aqui, sendo muito bem usada pelas minha pernas... Quem sabe eu até guarde para quem sabe um dia ter história pra contar!

Beijos querida <3

All About Supermarkets disse...

Ai Ari, vc como sempre muito carinhosa! <3

Eu sempre me esquivei de assuntos relacionados a maternidade antes de me tornar mãe. Sempre me senti muito filha e que não estava preparada para tanto. Mas, depois que descobri que a realidade é bem diferente do que a teoria conta, que na real é muito mais emocionante, rsrsrs... Vivo um paradoxo infindável com a maternidade e apesar dos pesares, amo demais tudo isso! :D

Beijos querida <3