quinta-feira, 7 de abril de 2016

Rodando sozinha pela cidade

A vida em uma cidade como São Paulo é um desafio para qualquer pessoa. Imagine para quem anda sob rodas. Isso mesmo, mas não rodas de um automóvel. Rodas de uma cadeira. 




Se locomover pelas ruas é quase o mesmo que fazer cross, eu costumo dizer que é street cross. São tantas ladeiras, vias e calçadas esburacadas quanto as esquinas com guias não rebaixadas. Isso quando não há um poste no meio... parece piada, mas existe. 

Depender do transporte público então, é uma aventura diária. A frota de ônibus da capital não está totalmente adaptada e quando está, nem sempre os mecanismos (rampas/elevadores) funcionam. Entrar no vagão do metrô super lotado nos horários de pico então, uma tarefa para poucos.

Sim, ir e vir não é nada fácil. Rezar para não ser atropelada faz parte da rotina. Por isso, muitos cadeirantes demoram a conquistar sua independência. Por isso, muitas mães não deixam seus filhos rodarem por aí sozinhos. É porque é perigoso mesmo! 

A primeira vez que sai sozinha foi para ir para a escola, e eu tinha uns 12 anos. Minha mãe trabalhava durante o dia e minha tia que costumava me levar ao colégio. Quando seus filhos mudaram de escola, eu automaticamente perdi a carona e tive que me virar sozinha. Claro, que não cogitei parar de estudar. Era a hora e a deixa que eu precisava para dirigir minha própria cadeira. Tive medo sim, mas fui desafiada pela vida e essa provocação me impulsionou. 

E por falar em escola, lembro-me bem de quando comecei a estudar (década de 70), depois de ser rejeitada duas vezes, até ser aceita na escola onde permaneci até a 8ª série.  Todos os colégios alegavam que não tinham acesso, que nada era adaptado e que nem sabiam como lidar com uma criança com necessidade especial. E, sejamos honestos, não sabiam mesmo. 

Naquela época, ninguém nem ao menos conhecia o que significava inclusão social. Apesar do cenário pouco favorável (nada favorável) – segui em frente e aprendi a lidar não só com as adversidades de uma vida em sociedade onde você é o único diferente, mas também com os desafios de mobilidade urbana de São Paulo. 

Hoje já é mais comum encontrarmos pessoas com necessidades especiais (não gosto da palavra deficiência porque ela remete a incapacidade e limitação) nas ruas, nas escolas, nos parques, nos cinemas, nos shoppings e nas empresas, porém, não foi sempre assim. Se a palavra de ordem hoje é inclusão é porque fomos realmente excluídos, por muito tempo.

A nova Lei de Inclusão Social está aí e, a cada dia que passa, quebramos novas barreiras. Não quero dizer que agora vai ser fácil mas, garanto, o limite está muito mais na nossa cabeça do que no nosso corpo. Para quem deseja ir além, o infinito é o limite.


San Ribeiro
Cadeirante e Profissional de Relações Públicas e Comunicação



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