quarta-feira, 2 de março de 2016

Trombofilia, 2 abortos e 37 semanas de luta

Meu nome é Tatiana e vou resumir, entre uma mamada e outra minha história:

Comecei a tentar engravidar aos 35 anos e, depois de seis meses, recebi a notícia que estava grávida! Porém, essa alegria durou apenas 1 semana. Tive um sangramento e perdi meu primeiro bebê. Especialistas confirmaram que era perfeitamente normal acontecer abortos espontâneos nas primeiras semanas de gestação e que não era motivo para grande preocupação. Dessa forma, depois de dois meses, fomos liberados para tentar novamente.


Mais uma vez engravidei e durante a tão sonhada ultrassonografia para ouvir os batimentos cardíacos do feto fomos arrebatados por um imenso silêncio. Mais um aborto. A dor dessa vez foi avassaladora, além de lidar com o impacto da notícia que se repetia, tive que seguir procedimento e ficar uma semana aguardando para fazer nova ultra e, em seguida, a curetagem. Um sofrimento que não desejo a ninguém. Peito de grávida, cara de grávida e o peso da morte precoce na minha barriga.





Entramos então em uma nova etapa exaustiva, fisicamente e psicologicamente, o da investigação laboratorial das causas do abortamento. Foram mais de 100 exames, fui virada do avesso. Mas, pela graça de Deus, descobrimos o que eu tinha: Trombofilia. A Trombofilia causa alteração na coagulação sanguínea, com conseqüente aumento do risco de obstrução dos vasos sanguíneos (trombose) e, por isso mesmo, traz grandes riscos tanto para a mamãe quanto para o bebê.


Apesar do medo de uma nova perda, agora já conhecíamos meu inimigo e já sabíamos como combatê-lo. Após seis meses fui liberada para tentar novamente e, em um mês, já estava grávida. Mas, e o dinheiro para comprar as injeções diárias do anticoagulante?


Fui imediatamente ao posto do SUS com a esperança de receber a medicação gratuitamente. Fiz o cadastro, passei em consulta e oficializei o pedido em carácter de urgência. Mas nunca tive resposta. Cada dia sem o remédio diminuiria as chances do meu bebê sobreviver, e quem tem trombose não pode esperar!


Mas não ficamos desamparados, através da minha médica, descobrimos que uma de suas pacientes tinha meses de medicação, da qual não precisaria mais, para me doar. Meu marido também comentou da nossa aflição com um amigo, e esse amigo comentou com outro amigo, que também se solidarizou com a nossa dor e se ofereceu, anonimamente, para arcar com a outra parte do custo da medicação. Dois anjos em nossas vidas que atendem pelo nome de solidariedade. Aos nossos financiadores de sonhos, meu eterno obrigada.


Durante toda a gestação (e no puerpério ) tomei enoxaparina sódica injetável na barriga. Foram quase quinhentas injeções, aplicadas por mim mesma com muita coragem. Afinal, era minha bênção que eu estava carregando.


Dia 29 de setembro acordei com um pressentimento, uma angústia, não sentia meu bebê mexer com antes, eu sabia que algo estava fora do controle novamente. Fui ao Pronto Socorro, fiz exames, fiquei em observação, e meu coração acelerou ao ouvir a frase: "Precisamos tirar logo esse bebê da sua barriga!"


Foi uma correria, um parto de emergência trouxe o amor da minha vida, minha razão de viver. Meu Luiz Bento. Prematurinho de baixo peso, Bento sofreu ainda uma pausa respiratória e uma infecção, contudo, dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, da qual sou devota, fomos para casa.


Foram 37 semanas de luta para conseguir nascer e 13 dias de luta na UTI para sobreviver. Mas, hoje, aos 5 meses, meu filho está super saudável, grande e risonho. E, a cada dia que passa, fico mais apaixonada pelo meu guerreiro que venceu, ainda tão pequenininho, desafios tão grandes da vida.


Aí, me perguntam se eu tomaria as 500 injeções novamente. E eu respondo: “Uma por uma!”


Tatiana Gregio S. Bellini

Esposa de Luiz e mãe de Luiz Bento
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Mas, afinal, o que é Trombofilia Dr?

Dra. Solange A. Monteiro, ginecologista e obstetra, conversa com a gente e tira as principais dúvidas sobre a doença. Confira:



Trombofilia é a mesma coisa que trombose?

A trombofilia é a propensão para desenvolver trombose (obstrução dos vasos sanguíneos devido o aumento da coagulação sanguínea) e pode ocorrer por mutações ou deficiências na produção dos fatores de coagulação.


Qualquer pessoa pode ter Trombofilia?  

A trombofilia pode ser hereditária ou adquirida. Nos casos de trombofilia adquirida, a obesidade, o tabagismo, o diabetes, a pressão alta e mesmo o uso de anticoncepcionais são fatores de risco.


Qual a relação entre Trombofilia e abortos de repetição?

As portadoras de trombofilia têm mais chance de apresentar complicações na gravidez, incluindo abortos de repetição, hipertensão, restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) e parto prematuro.
Importante lembrar que existem vários tipos de trombofilias, mas a SAAF (Síndrome do anticorpo antifosfolípede) é a responsável por cerca de 16% dos abortamentos de repetição. De qualquer forma, apenas 0,5 a 4% dos casos de paciente com trombofilias desenvolverão complicações na gestação.


Mas, por que muitas mulheres só descobrem a Trombofilia na gestação?

É que nesse período há um aumento natural da coagulação do sangue (hipercoagulação) justamente para ajudar na contração uterina e no controle da hemorragia pós-parto. Porém, a chance de produzir trombos que podem obstruir vasos da placenta e ocasionar abortos precoces de repetição, óbito fetal, descolamento prematuro de placenta e eclâmpsia precoce também aumenta.


Por que é tão difícil obter o diagnóstico precoce da Trombofilia?

A trombofilia associada a problemas na gravidez muitas vezes é assintomática, o que acaba dificultando o diagnóstico. É uma inimiga silenciosa, não detectada em exames de sangue de rotina, apenas em exames específicos, que só costumam ser solicitados quando há antecedente familiar ou abortos repetidos.


A Trombofilia pode ter influência na (in)fertilidade?

Essa ligação é considerada incerta no mundo científico, porém o tratamento da trombofilia costuma melhorar as chances de uma gravidez de sucesso. A doença também estaria relacionada à dificuldade de implantação do embrião ou, como falamos, abortos de repetição (quando há perda de 3 gestações seguidas).


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