terça-feira, 15 de março de 2016

Clube do Bullying: Não deixe seu filho fazer parte disso

Sempre ouço relatos sobre crianças que sofrem ou fazem bullying e vim aqui hoje conversar com vocês sobre isso. Na verdade, vim me confessar.




Na minha época de estudante não usávamos a palavra bullying mas, sim, fazíamos isso. Lembro muito bem de exercermos nossa tirania infantil, em intimidações coletivas, sobre determinadas crianças e, claro, em outros momentos, nós mesmos estivemos suscetíveis a isso. Dessa forma, sempre fiz um esforço para pertencer a turma dos "legais" da classe porque se estivesse do outro lado, estaria – de certa forma- desprotegida.

Recordo bem de uma ocasião, quando duas colegas da classe brigaram comigo. O motivo da discórdia eu já não lembro, mas o fato é que meus amigos, sem eu saber, mas em minha solidariedade convenceram metade do colégio a jogar milho nas meninas, na hora da saída. Eu só lembro que me diverti muito com a chuva de milho (apesar de não entender o real impacto daquilo) pois estava bem brava naquele dia.

Quinze anos depois, encontrei uma dessas meninas em um barzinho e, já jovem, ela me disse. “Claro, que lembro de você, vocês jogaram milho em mim".  Na verdade, não sabia se ela falou aquilo para eu rir ou para eu chorar, fiquei totalmente envergonhada.

Em um segundo episódio, estávamos na sala de aula em um colégio importante da cidade e uma das colegas da sala (que fugia ao padrão de beleza) se levantou para responder uma pergunta. De repente, soou o coro da classe toda gritando "Demônio, demônio".

Dessa vez, eu já não era tão bobinha e fiquei muito chateada de ver aquilo e, ainda mais, de ver o professor ficar quieto. O mais comum naquela época era termos professores omissos nesse tipo de caso. Eu também me mantive quieta, afinal, tinha acabado de entrar no colégio e, obviamente, depois dessa, preferia ainda mais fazer parte do grupinho "legal” de amigos.

Não sei exatamente as consequências dessa violência psicológica (ou em outros casos, física) na vida adulta dessas pessoas e nem mesmo o tamanho dessas cicatrizes. Porém, hoje, como pedagoga e, principalmente, como mãe, percebo o quanto eu tropecei nesse caminho.

Acontece que, semana passada, minha filha de 8 anos estava folheando um "livro de regras do clube das meninas" (eram sulfites coladas em forma de livro), onde se lia:

Regras comuns:
1 - Não brigar
2 - Não faltar às sextas feiras
3 - Não falar com a “fulaninha”

Ops, como assim? Não falar com a “fulaninha”?  Perguntei em tom áspero para minha filha, mas não deu tempo dela responder (nem de eu dar o sermão que minha angústia pedia) pois já estava atrasada para entrar na escola. Aquilo me remoeu o dia todo. O que eu deveria fazer?

Poderia conversar só com minha filha e isto resolveria o meu problema já que proibiria ela de participar desse clubinho.  Porém, eu não resolveria em nada o problema da “fulaninha”, excluída, certamente por algum motivo fútil, do convívio das outras meninas.

E, se, no “livrinho de regras” estivesse o nome da minha filha? Eu não ia gostar nada e iria sofrer junto com ela. Foi só me colocar no lugar da menina e no lugar da mãe da menina para instintivamente saber o que seria "o melhor a fazer".

Decidi conversar diretamente com a professora (felizmente muito mais consciente do seu papel fundamental na solução de conflitos) e o bilhete foi entregue na sua mão para que tomasse as providências cabíveis. Conversei também com minha filha, claro, em particular, que logo se comprometeu a sair "do clubinho".

Se quero um mundo melhor para meus filhos, devo deixar filhos melhores para o mundo, não é mesmo? Mamães, não podemos deixar que nossos filhos façam bullying. Não que eu ache tão terrível quanto nossos filhos sofrerem bullying. Eu acho muito, muito pior! É nosso dever de casa.


Jan M Bormann
Pedagoga e Mãe de dois filhos


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