sábado, 17 de outubro de 2015

Muito Além dos Rótulos


Sabe aquelas lembranças da época do colégio que te marcam? Pois bem, pensando como educadora, eu tenho uma que seria cômica se não fosse trágica. 

Quando eu estava na sétima série, se eu não me engano (pois faz muitos anos...risos), tinha uma turma um "pouco" bagunceira e, entre os bagunceiros, um se destacava por ser bem conhecido de todos os professores, vou chamar de D.

Um dia, a sala estava um alvoroço e a professora de língua portuguesa, uma senhora um tanto nervosa, deu um grito: "D cala a boca" (sim, nessa época os professores podiam mandar calar a boca...mas isso é tema para outro texto). De repente, um silêncio ensurdecedor invade a sala, seguido de risos histéricos, e uma professora muito brava sem entender nada o que havia ocorrido. Um coro explicou: "Professora o D faltou". Sim o D havia faltado mas, como já tinha fama de bagunceiro, a professora nem sequer se preocupou em olhar para ver quem estava bagunçando.

Apesar da história ser engraçada, fico pensando quantos Ds existem por aí, quantos alunos são rotulados ao longo da vida escolar. Várias vezes antes de pegar uma sala fui avisada o quanto tal aluno era terrível. Confesso, que no início, ficava assustada e já entrava em sala de aula dando maior atenção para aquele aluno para que conseguisse controlar a turma. Porém, eu tinha no máximo 10 alunos em sala de aula, por ser escola especial, mas, e os Ds do ensino regular, com até 40 alunos em sala, como são tratados após o rótulo? Já ouvi muitos professores e diretores dizerem: "Ah esse aí nem dou mais bola..."

Claro que os relatórios bimestrais sobre os alunos ajudam sim a conhecer a próxima turma, mas também atrapalham. Inúmeras vezes, já pegamos a sala de aula com alunos rotulados como indisciplinados ou hiperativos. Contudo, devemos enxergar muito além dos rótulos. 

Eles são crianças, que merecem uma oportunidade de mostrar que podem mudar, se também mudarmos nossa postura diante eles. No lugar de os ignorarmos, devemos tentar descobrir o verdadeiro motivo de tal comportamento, e ajudá-los a amadurecer. Dessa forma, a parceria entre escola e família é fundamental.  

Se você, mãe, um dia for convidada a ir à escola para conversar sobre o comportamento do seu filho, vá de coração aberto: 

Primeiro, confie na escola que escolheu para o seu filho e ouça atentamente os fatos e as sugestões pedagógicas aconselhadas àquela situação.

Segundo, descubra o real motivo desse comportamento. Converse com o seu filho e entenda se há ou houve algum gatilho emocional envolvido (o nascimento de um irmão, a separação dos pais, entre outras situações novas na vida da criança que possam influenciar um comportamento sem limites). Encontrado o motivo, será muito mais fácil para você e para a escola ajudá-lo a superar.

Terceiro, analise se esse é um fato recorrente ou se foi algo esporádico. Veja se percebe esse comportamento também em casa, em família, ou se é algo que acontece somente na escola.

Se é recorrente, seu filho realmente deve estar com alguma dificuldade de aprendizagem que deve ser trabalhada junto à escola, ao pediatra, e a outros profissionais competentes. Crianças com dificuldades de aprendizagem normalmente ficam desmotivadas com as tarefas escolares por apresentarem grande sentimento de incapacidade, o que leva à frustração. Nesse caso, a orientação é sempre valorizar o que o aluno tem de melhor e, assim, fortalecer sua autoestima. Mostrar para a criança o quanto ela é boa em tarefas nas quais já tem habilidade é imprescindível.
Agora, se a resposta for não, talvez seja hora de repensar se esta é a escola certa para o seu filho. Reavaliar se aquela metodologia de ensino realmente combina com a criança.

Mas, a única coisa que não pode acontecer é ignorarmos a situação e acharmos que aquele comportamento já faz parte da personalidade do pequeno, pois, ele deve estar muito além dos rótulos.

Por Jan M 
Jan é Pedagoga e mãe de dois filhos
Pedagoga com Habilitação em Educação Especial e pós graduação em Psicopedagogia.

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Cena do Desenho "Os Simpsons" - Bart Simpson em sala de aula

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