sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Mais presente e menos presentes



Na era da comunicação, em que muitas vezes andamos mais conectados ao mundo do que à nossa própria vida, nós pais, vivemos com a culpa. Culpa por não alcançarmos as metas impostas por nós mesmos em relação aos nossos filhos. Vivemos culpados por não termos tempo de sentar no chão com eles e nos despirmos do adulto careta que nos tornamos e dar não somente a eles mas, a nós mesmos, a chance de por alguns minutos voltarmos à infância e acreditarmos que aquela cabana de lençol em cima das nossas cabeças é mesmo o telhado de aço da nossa fortaleza, cujos monstros mais fortes podem vir e soprar com toda a força que jamais conseguirão derrubá-la.

Nos falta coragem pra acreditar que, apesar de termos crescido para as responsabilidades que permeiam a vida, por dentro ainda somos inocentes e bastante infantis...Sentimos vergonha de externar nossas fantasias, acreditar que as fadas do dente de alguma forma até existem e que devemos ganhar alguma recompensa por algo que com tanto afinco realizamos, e o nosso trabalho é a maior prova disso! Nos tornamos adultos e esquecemos o que nos fazia realmente felizes quando crianças. É, pois é, aposto que não era nada de valor financeiro muito alto e que com um pouco de tempo e boa vontade não desse para realizar. Afinal, a infância é a única fase na nossa vida em que tudo se constrói com papel, um pouco de cola, tintas coloridas, barro, massinha e muita imaginação.

Recordo-me de um brinquedo que ganhei sem pedir. Meus pais compraram porque acharam que eu ia me alegrar e, na verdade, alegrou. Mas, não porque o brinquedo era muito legal, não. O que alegrou foi o simples fato de poder brincar junto dos meus pais. Esse brinquedo vinha numa caixa e trazia dentro de si um saquinho com pó para gesso, moldes no formato dos personagens Disney e tintas para colorir, simples assim. Todos juntos, em família, preparamos a massa que, com cuidado, despejamos nas forminhas e depois de algumas horas de espera pudemos também pintar. Fizemos pequenas estátuas do Pateta, do Pato Donald e até do Mickey!

- "O meu ficou mais lindo que o seu", disse minha mãe para o meu pai e ele, se defendendo, respondeu:
- "É tudo uma questão de ponto de vista! O meu ficou especial por ter sido feito por mim"!  (risos)

Eu, sinceramente, não lembro a cor da caixa do brinquedo, mas aquela cena em família foi o melhor de TODOS os presentes que ganhei, foi o que realmente ficou guardado na memória, recordo-me com carinho até hoje e não foi preciso de muito para me fazer feliz.

Entretanto, tamanha simplicidade se destoa em meio à loucura que vemos nas lojas de brinquedos. Aqui em São Paulo, na região da 25 de março, o trânsito trava, avistamos de longe multidões de pessoas alucinadas nas lojas à procura de promoção. Todos os anos o telejornal entrevista algumas destas pessoas e pergunta: o que irá comprar para as crianças hoje?  E a resposta circunda sempre os nomes dos brinquedos que fazem propaganda na TV. Nunca ouvi ninguém que respondesse que mais importante do que o brinquedo é passar o dia juntos. Ou que iria comprar um brinquedo que desse para se divertirem em família.

Nessas horas, a cena do filme: “Um Herói de Brinquedo”, que assisti muitas vezes, confesso, cai como luva: mostra o pai (um cara super ocupado com o trabalho que esquece de comprar o presente de natal do filho com antecedência e acaba sofrendo horrores para encontrar o tão sonhado brinquedo em plena véspera de natal) numa fila quilométrica para entrar numa loja de brinquedos em busca do fenômeno de vendas do momento, um boneco de ação chamado: "Turbo Man". Inconformado com o tamanho da fila, ele força a entrada e encontra outro pai (um carteiro que só está naquela fila, naquele dia, porque não teve tempo de comprar o presente do filho antes devido a demanda de entregas de natal) que faz um desabafo dizendo que as indústrias de brinquedo aliadas às agências de publicidade, são verdadeiros "cartéis" que lucram milhões para convencer as crianças que precisam de determinado brinquedo e convencem-nas a tal ponto que o filho vem pedindo o brinquedo ao pai, já usando o discurso que se ele não ganhar será um fracassado! E o pai, coagido à compra, mesmo sem ter dinheiro, acaba comprando. Depois de uns dias, o brinquedo quebra e o pai frustrado (às vezes nem terminou de pagar) não pode nem consertar, porque o brinquedo é de plástico e não vendem peças de reposição. (Confesso que agora sendo mãe e sentindo na pele tudo isso, eu concordo com o cara! risos).

Não muito diferente da ficção, nessas épocas de Dia das Crianças e Natal, principalmente, vemos pais literalmente financiando brinquedos mais caros que o orçamento doméstico para alegrar crianças que mal sabem falar, mas aprenderam a pedir. E também pais que tem condições de comprar a loja inteira, se fosse o caso, mas que desconhecem os gostos dos próprios filhos, pois os deixam impiedosamente de lado para dedicar-se ao trabalho e usam da desculpa que só trabalham para oferecer O MELHOR para eles. Entretanto, na realidade, nem imaginam que o quê os filhos mais desejam é tão somente um contato um maior, um esconde-esconde, uma historinha antes de dormir, um carinho, um abraço... No caso dos adolescentes, uma conversa franca... Isso tudo é muito valioso! Mais do que parece e alguns deixam-se enganar apenas pelo preço dos brinquedos.

Muitas crianças estão carentes do amor de seus pais, muito mais do que de presentes, algumas estão desejosas de algo sem valor financeiro agregado, mas com um incalculável valor afetivo. Algo muito simples e extremamente memorável: passar um dia efetivamente com os pais, divertindo-se em meio a descontração e ALEGRIA! Criança precisa de pouco para ser feliz, não precisa de IPad, IPhone, vídeo game de última geração. Meninas não precisam de acessórios caríssimos para as suas bonecas, elas precisam de amor, de cuidados, de carinho para elas mesmas...Por isso, nesse dia das crianças, seja mais presente e não se preocupe tanto com os presentes.

Garanto que muito mais valerá os momentos divertidos em família do que os brinquedos caros, comprados e muitas vezes parcelados em 12x no cartão. Tente fazer um almoço com a ajuda das crianças, uma comida de mentirinha nas panelas de brinquedo da sua filha, quem sabe um tanque de guerra para os meninos com as cadeiras da mesa de jantar? Permita-se a, pelo menos um dia, esquecer da bagunça de casa, permita-se ser criança junto de seus filhos!

O amor não é vendido em loja, para ele não tem promoção nem desconto, não existe parcelamento. O amor não se compra com dinheiro, cartão, boleto ou cheque. Nem com o alto dólar! (risos). O amor se sente estando perto, compartilhando momentos. O amor é cultivado com tempo, com carinho, com dedicação. Depois eles crescem e se tornam adultos e quando você olhar para trás, tudo já terá passado e nem mesmo as lembranças restarão em sua memória... Isso é muito triste, por isso APROVEITE enquanto há tempo!

Neste dia das crianças (e nos que se seguirem ao longo de sua vida), preocupe-se em SER mais presente e não tanto com os presentes! Fica a dica do Muito Além das Fraldas: 
Sejamos crianças junto às crianças, sejamos FELIZES!!! 

Por Bruna Chufuli - Nos acompanhe clicando AQUI e curtindo nossa página no facebook.


Cena do Filme "O amor não tira férias"

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