sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Lobo em pele de cordeiro


“Eu tinha 6 anos. Ele sugeriu que brincássemos de esconde-esconde e enquanto suas filhas (minhas amigas na época) escondiam-se, ele me levou para o seu quarto para contar até 100. Enquanto eu contava: 1, 2, 3... tampou minha boca com uma das mãos e com a outra imobilizou o meu corpo. Esfregou fortemente suas partes em mim e, ofegante, sentiu prazer diante do meu desespero..."

Os lobos estão por aí em toda parte, em casa, na casa dos coleguinhas, nas ruas, nas igrejas, nos consultórios médicos e, como animais famintos, planejam o abuso sexual contra as crianças escorados em uma impunidade tão desprezível quanto seus atos indecentes. Usam máscara de bons homens, pessoas acima de qualquer suspeita, porém estão à espreita, esperando o exato momento para darem o bote. Agem na surdina, criam situações propícias, contos lúdicos para envolverem o pequeno e, quando a sós com a vítima, de forma fria e sagaz, mostram suas garras.

Muitas crianças, inocentemente, não entendem direito o que se passou e por isso não conseguem explicar os fatos, mas entendem muito bem que é algo que nunca deveria ter acontecido. Em dúvida quanto à própria conduta, sentem-se fragilizados, por vezes culpados e, por vergonha ou medo, não contam aos seus pais.

"...Depois disso, eu fiquei assustada, me sentia enojada e suja. Me sentia em dúvida, em meio à pureza dos meus poucos anos de idade, não sabia expressar em palavras o que havia me acontecido. Me sentia culpada, pois pensava que aquela respiração ofegante pudesse ser algum problema de saúde dele e, por vergonha e falta de coragem, nunca contei a ninguém. Apenas implorava para que minha mãe não permitisse que eu fosse novamente à casa das minhas amigas, cheguei a ajoelhar no chão e pedir pelo amor de Deus que ela não me deixasse ir. Mas ela achava que eu fazia isso porque era muito tímida e um pouco introspectiva. Acreditava que por eu ser filha única e muito grudada a ela, deveria sim cultivar mais as amizades e nunca desconfiou de nada...".

Como pais, nunca devemos ficar apenas na defensiva, pensando  "isso nunca acontecerá com meus filhos, porque eu cuido muito bem para que eles não tenham contato com esse tipo de gente ''. Afinal, não podemos simplesmente achar que podemos criá-los numa bolha, pois educá-los alheios aos perigos que nos cerca é o pior dos caminhos a seguir


Além de informar para prevenir, é muito importante ficarmos atentos a mudanças repentinas de humor ou comportamento e “ouvir atentamente” os pedidos de socorro que podem vir como medo de ir a determinados lugares, fazer certas atividades, de determinadas pessoas e especialmente de estar sozinho com elas. E o mais importante, nunca duvide ou recrimine uma criança que venha desabafar ou tentar dizer algo que a esteja incomodando a esse respeito. Dê sempre crédito ao seu filho.
Segundo o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral o melhor caminho é o da informação. Pai de três meninos, com idades entre 8 e 2 anos, Alexandre trabalhou com o tema da violência familiar por 10 anos, sobretudo abuso sexual infantil, e decidiu escrever uma carta para os filhos, tratando esta questão de forma lúdica e delicada. Inspirada na história da Chapeuzinho Vermelho, a carta revela para as crianças que realmente existem muitos Lobos Maus a solta por aí, intimidando as crianças, sobretudo as meninas, e os ensina o que fazer caso algum chegue perto deles. 


Por menor que pareça o assédio ou abuso, saiba que quando há um desvio de caráter para o mal, o que difere o remédio de um veneno é apenas o tamanho da dose. Então, nessa questão, não existe crime pequeno ou crime grande, qualquer tipo de ato imoral contra uma criança merece punição. 

Se desconfiar que alguém de sua família é um pedófilo em potencial, investigue. Se confirmar a suspeita de assédio ou abuso, denuncie. É devido ao silêncio que temos muitos "lobos" à solta. Não sejamos cúmplices e nem tenhamos receio de expor ninguém, uma palavra que dissermos pode soltar as algemas de vítimas que mantiveram tamanha dor em silêncio por anos e anos.

Agora, se você, assim como eu, além de mãe preocupada com o assédio contra seus filhos, também foi vítima de abuso sexual na infância, lembro que nunca é tarde para colocar para fora tudo o que ficou entalado na sua garganta. Seja em uma conversa franca com a sua melhor amiga, seja em sessão de terapia, seja escrevendo uma carta destinada ao pedófilo (que você pode queimar depois) com o objetivo de se libertar do trauma.

"Eu sinto ódio! Te odeio como nunca odiei ninguém em toda a minha vida. Ainda sinto o asco da sua presença e nojo desta sua alma imunda. Eu era apenas uma menina e você ceifou de mim a inocência me trazendo medos que me perseguem até os dias de hoje. Atualmente tenho 29 anos, acompanho suas filhas pelas redes sociais e costumeiramente sinto o desprazer de me deparar com suas fotos na timeline delas, posando de super-pai e pai-herói. Vejo e choro em silêncio a sua infeliz impunidade. Por outro lado, percebo o amor de suas filhas contigo e sou levada a crer que graças a Deus nunca teve coragem de fazer algum mal à elas. Ou teve?
Diante de tudo isso, apenas oro a Deus pedindo que proteja seus netos e netas, os futuros colegas deles, além de toda e qualquer vítima que ainda possa ser presa fácil desta sua malignidade. E com esta mesma fé em Deus, eu peço que a justiça divina seja feita ".


M.C.M, 29 anos, vítima de abuso sexual na infância #PrimeiroAssedio
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