No que a sua vida mudou
depois da chegada de sua primeira filha?
Não existem apenas
mudanças. Mudanças são transitórias, temporárias e podem ser revertidas em
qualquer tempo. O que acontece com uma moça que se torna mãe é uma
transformação, uma metamorfose.
Eu era uma jovem moça
casada e nove meses depois eu já era uma jovem senhora casada e mãe.
Antes, mesmo casada,
às vezes recebia cantadas e olhares dos homens nos lugares que ia. Muitos
inclusive quando descobriam que eu era casada, diziam: que pena! Cheguei tarde!
Nossa, que desperdício... Sabe, tirando a inconveniência disso, me sentia até lisonjeada,
me sentia bonita, viva e valorizada!
Entretanto, só sendo
casada não tinha notado nenhuma mudança drástica em mim. Refiro-me ao meu corpo
jovem, cheio de curvas longilíneas. Um par de seios bonitos, uma bunda arrebitada,
algumas celulites e estrias, é claro (afinal de contas toda mulher normal tem).
Mas mesmo assim me sentia uma moça atraente. E a única diferença que encontrava
entre mim e as moças ao meu redor, era ser casada e apesar disso, eu era uma
jovem normal.
Nove meses depois, me
tornei mãe e as preocupações com a vida já eram totalmente diferentes. Posso
dizer que a futilidade do meu ser morreu para dar lugar a uma mãe dedicada e
constantemente preocupada com o bem estar da filha.
Não durmo um sono
pesado há 2 anos, acordo de hora em hora durante a madrugada para saber se
minha filha respira tranquila, se não está febril ou mesmo com calor. Não
degusto mais os alimentos da forma com que fazia antes, pois desde que me
tornei mãe só me preocupo em alimentar a minha filha, se ela comeu bem, se
comeu um pouco de tudo que coloquei no prato, se ainda está com fome, com
sede... O sabor, a textura e a beleza do que é colocado no prato, já não são
mais o principal pra mim. Interesso-me muito mais por comidas saudáveis, com
nutrientes, fibras, vitaminas que irão fazer bem a ela.
Hoje, eu já não me
arrumo mais. Antes, eu era conhecida como a boneca “Barbie”, todo dia com uma
roupa diferente, sempre seguindo a tendência da moda, com maquiagem perfeita,
cabelo impecável. Mesmo trabalhando cedo, fazia questão de levantar no mínimo 1
hora antes do horário normal para tomar banho, lavar o cabelo, secar e fazer
cachos nas pontas. Tingia-o religiosamente de 15 em 15 dias e nunca andei com a
raiz do cabelo aparecendo. Inclusive, condenava as mulheres que encontrava na
rua com o cabelo mal pintado e dizia: como tem coragem?
Até pra ir à padaria
me maquiava e penteava o cabelo!
Hoje, não entendo
como conseguia fazer todo aquele ritual. Maquiar-me e pentear o cabelo da forma
como fazia antes, só em pensar me sinto exausta! Não tenho mais ânimo e nem disposição
para tanto.
Vou à padaria todo
dia com a mesma cara de ontem, cara de: desculpe, é o que estou podendo
oferecer no momento. Sinto não ser tratada da mesma forma que antes, falta um
quê de dignidade em mim e já não recebo mais aquele agrado do rapaz que corta
os frios como antigamente: quer experimentar um pedaço do queijo, moça? Isso ficou
pra história! Hoje ele corta o mais rápido possível pra chegar a vez da próxima
pessoa da fila! (risos)
Ando pelo mercado
feito uma louca de moletom e Havaianas. No cabelo, o penteado mais
incrível do
momento: o bom e velho “Coque” e saio às compras.
Antes, ir ao mercado
era uma terapia, comprava molhos especiais para fazer jantares especiais para o
marido, investia num bom azeite e na dispensa sempre tinha um bom vinho para
acompanhar as massas.
O setor de cosméticos
era o meu paraíso! Ficava longas horas lendo os rótulos dos shampoos,
condicionadores, finalizadores... Sempre saia de lá com pelo menos dois ou três
produtos novos pra testar.
Hoje, meu marido até
brinca dizendo que parece que estamos treinando para correr a maratona! Não
podemos demorar em corredor nenhum, não só por causa do tempo que é curto, mas
porque nossa filha passa derrubando TUDO o que está nas prateleiras. O corredor
de desodorantes é uma tortura! Ela derruba um a um como se fossem pinos de
boliche. O de biscoito, então, nem se fale! Ela pega todos e vai enfiando no
carrinho, e ao mesmo tempo vamos tentando tirar o que ela está pondo e isso
vira uma pequena disputa. Tenho certeza que o rapaz do circuito de câmeras deve
ter nossos rostos numa lista negra e somos tidos como: baderneiros para o
mercado. (risos)
Nunca mais fiquei 1
minuto completo no setor de cosméticos. Comprar shampoo é assim: esse é pra
cabelo oleoso, põe no carrinho e bora para o próximo item da lista.
A prateleira do
banheiro que antes arrebentava por causa do peso, hoje tem espaço até para
pendurar os brinquedos de banho. É um shampoo e um condicionador para os dois (eu
e o meu marido), e o shampoo da nossa filha. Antes tomávamos banho cada dia com
um sabão diferente, enquanto hoje é um sabão liquido pra família toda! E VIVA
às embalagens tamanho família!
Como podem perceber,
hoje sou outra pessoa. Não dou mais tanto valor a mim.
Hoje valorizo e
priorizo a minha filha, se ela está bem tratada, se está bem alimentada, limpa,
saudável, bem vestida. Se o sapato combina com a cor da blusa. Se está
preparada para a estação do ano que está por vir, se tem casacos para o inverno
ou vestidos para o verão. Enquanto eu, bem, eu nem tenho mais guarda-roupa!
Soco minhas peças numa cômoda e quase sempre uso as mesmas peças. Tenho 2
calças que uso com frequência e 1 para ocasiões especiais. Tenho vestidos da
época que as festas era a minha vida, mas nenhum que imprime mais a
personalidade que assumi me tornando mãe.
As lindas saias
rodadas e curtinhas que exibiam minhas belas pernas, hoje já somam o
guarda-roupa de outras pessoas, pois ao sair da maternidade já fiz a limpa e
doei boa parte das roupas de “cocota” que compunham o meu closet. Aliás, hoje
já não me sinto à vontade de saia, mesmo as mais comportadas, pois as marcas
que a maternidade fez no meu corpo estão à mostra para todos verem. As estrias,
as celulites, a flacidez e as melasmas...
Hoje tudo se
transformou, foi uma verdadeira metamorfose.
Por fora, posso
parecer mais velha e menos formosa. Mas, por dentro me sinto melhor, me sinto
provedora, me sinto educadora, me sinto instrumento formador de um novo ser com
sua personalidade própria, ideias, atitudes e sentimentos que vão além dos
meus, mas que ao mesmo tempo são fruto de tudo o que de melhor eu ensinar e
proporcionar a ele.
Hoje me sinto mãe, e
ao menos com isso me sinto satisfeita, pois meu corpo antes cheio de curvas
esculturais hoje nutre de amor um ser que foi formado de e em mim, é parte do que
fui e do que sou e levará à posteridade um pedaço, o melhor pedaço de mim.
*Por Bruna C.M.