A
Isabella Pimentel é uma amiga virtual querida. Nos conhecemos no ano passado,
quando eu estava grávida e através de uma amiga em comum pra lá de especial.
Foi
a Isa quem me apresentou oficialmente ao “dia azul”. Fiquei super animada com a
causa e pude vestir meu barrigão de azul para poder chamar atenção virtualmente
à causa e falarmos sobre o Autismo. Mas, esse ano, decidi fazer um pouco mais.
O
Muito Além das Fraldas traz para vocês, uma entrevista com a Isa.
Quem
melhor do que a mãe de um autista (o liiiindo do Arthur) para nos falar sobre
esse dia e dividir um pouco sobre como é conviver com essa deficiência? Você
vai aprender muito com o que vem a seguir e vai se emocionar com o que vem no
final, por isso, vem com a gente!
Blog
MADF: O que é
exatamente o “Autism Awareness Day”?
Isa: O dia 2 de abril foi adotado
pela ONU em 2007 como dia internacional da conscientização sobre o autismo.
Nesta data, associações de apoio ao autismo no mundo todo organizam eventos e
manifestações para chamar atenção sobre a causa.
Blog
MADF: Por que
ele é tão importante?
Isa: O dia 2 de abril é um dia em
que todos os países se dedicam a discutir a melhoria na qualidade de vida de
pessoas no transtorno do espectro do autismo. Apesar do número crescente de
diagnósticos positivos, ainda há uma carência generalizada de profissionais e
políticas de integração de autistas em escolas e no mercado de trabalho.
Existe
também muita informação equivocada sobre os sintomas e a autonomia dos autistas.
O autismo ainda é visto como uma doença a ser tratada, e não como uma
deficiência em alguns aspectos do desenvolvimento, que fazem com que autistas
sejam apenas diferentes, e não doentes ou deficientes.
Blog
MADF: Por que
a cor azul nos desafios?
Isa: Isso começou com uma campanha
da “Autism Speaks”, uma associação americana muito ativa em defesa dos direitos
dos autistas. A associação adotou a cor azul como símbolo do autismo, porque é
mais comum em meninos do que em meninas.
No
dia 2 de abril, vários monumentos nacionais são iluminados de azul e pessoas
que apoiam a causa se vestem de azul. Mas, também há caminhadas, debates,
congressos e outros movimentos que visam conscientizar as pessoas que não estão
envolvidas diretamente com o tema sobre as dificuldades que “famílias azuis”
enfrentam.
Blog
MADF: Quais
foram as maiores dificuldades que você sentiu vivendo com o autismo tão de
perto?
Isa: Meu filho irá completar seis
anos de idade em agosto, mas convivo com as delícias e dificuldades de ter um
filho autista há dois anos e meio, quando recebi o primeiro diagnóstico de
"sintomas de autismo" (que foram confirmados só agora). As
dificuldades variam de acordo com a idade e o nível de desenvolvimento do
autista, mas com certeza os primeiros meses do primeiro diagnóstico são o
período mais difícil.
Não
existe informação suficiente sobre o transtorno e como tratá-lo. As filas de
espera em centros de diagnóstico são de dois anos e tudo que nós sabemos é que
quanto mais cedo começarmos o tratamento, melhores serão os resultados. Os
poucos terapeutas e centros especializados têm a agenda completa, são
caríssimos, e os seguros de saúde não são obrigados por lei a cobrir
tratamentos psicoterapêuticos, que é como se trata o autismo.
Perdi
a vergonha de implorar, conheci algumas portas onde bater, e hoje, meu Arthur
está bem assessorado em um centro especializado e tem um exército de anjos em
forma de terapeutas, educadores e babás que estão sempre com ele. Minha batalha
agora é para que ele seja integrado na escola regular e principalmente à
sociedade. Daqui alguns anos, provavelmente esta batalha será com a sua
inclusão no mercado de trabalho.
O
curioso é que meu Arthur responde muito bem aos tratamentos e está se
desenvolvendo muito bem. Ele já fala, lê e escreve, come sozinho e não usa mais
fraldas. Minha luta nunca foi sobre o desenvolvimento dele, mas em conseguir
que ele tivesse acesso à educação especializada, que é um direito fundamental
da criança.
BLOG
MADF: O que
você apontaria como os maiores avanços nessa questão nos últimos anos?
Isa: Quando comecei minha caminhada,
havia um debate sobre o tratamento mais adequado e os serviços públicos
disponíveis na Suíça, pendiam mais para o tratamento psicanalítico que para o
psicoterapêutico.
Cada
autista precisa de um tipo de tratamento diferente e eu não posso afirmar que
essa linha é melhor do que aquela, mas como mãe, me alivia muito saber que a ideia
de internação de jovens autistas em clínicas especializadas tem se tornado cada
vez mais obsoleta.
Ainda
há muita desinformação e charlatanismo, crianças sendo medicadas ou sujeitas a
dietas restritivas e, o que é pior, sem uma terapia adequada, por falta de
acesso ou por opção dos pais. Eu não conheço dados específicos, mas tenho a
impressão que essa noção tem sido deixada de lado. Pelo menos para mim, faz
tempo que não me propõem colocar o Arthur numa dieta restritiva de glúten ou
lactose como cura milagrosa para o autismo.
Blog
MADF: Quais
seriam as 3 questões principais que precisam de mais atenção da sociedade
(médica, civil, educacional...) com relação ao autismo?
Isa: Acesso à educação
especializada, políticas reforçadas e possíveis de inclusão escolar e acesso ao
mercado de trabalho!
Blog
MADF: Qual a
mensagem que você gostaria de deixar para nossos leitores nesse tão azul 2 de
Abril?
Isa: Um filho autista ou com
qualquer outra necessidade especial é um presente! O maior fardo que nós
carregamos é a falta de oportunidades para eles, nunca o transtorno deles!
Por
isso, um convite pra festinha de aniversário ou pra brincar com o seu filho, um
olhar de simpatia em meio a uma crise, um carinho nos nossos filhos, vestir-se
de azul no dia 2 de abril, são pequenas coisas que fazem TODA a diferença pra
quem está matando um leão por dia.
(Arthur arrasando no Awareness Day ano passado) |
Blog
MADF: Para
finalizarmos, o que você gostaria de ressaltar para nossos leitores?
Isa:
Uma vez eu contei pra uma colega de trabalho que meu filho tinha autismo e, em
vez da habitual cara de piedade ou "que pena!", que eu costumo ouvir
quando conto isso, ela respondeu "cool (legal)!" Ela não podia
imaginar o bem que ela me fez com essa palavrinha de quatro letras!
Autistas
são incríveis! Eles têm um universo riquíssimo e capacidades infinitas! Meu
filho, aos três anos de idade, tinha aprendido a ler sozinho com o “Ipad”, sabe
contar até mais de cem e consegue se comunicar em três idiomas. Claro que é “cool”
(legal) conviver com o autismo!
O
dia que os pais receberem a notícia que têm um filho autista com um sorriso no
rosto, vai ser o dia que eu não vou mais precisar me preocupar com o futuro do
meu filho autista mais do que me preocupo com o futuro do meu filho “neurotípico”
(dito popularmente como “normal”).
Autistas
são essenciais à sociedade! Eles são críticos, inventivos e inovadores. Eles só
precisam de oportunidades. Incluam-nos que vocês só têm a ganhar!
**
E
agora, depois de lerem tudo isso, bora pintar o mundo de azul amanhã?
As
campanhas, sejam elas físicas ou virtuais, são importantíssimas porque fazem
com que as pessoas se lembrem do assunto. Elas trazem à tona, tópicos de
discussão que acabamos deixando de lado no dia-a-dia ou nem mesmo sabemos que
existem porque não fazem parte da nossa realidade. E quando estamos na
internet, temos uma oportunidade única de alcançar muito mais pessoas do que
pessoalmente.
Por
isso, amanhã, se vista de azul! Poste sua foto nas redes sociais usando a “hashtag”
oficial da Campanha: #autismawareness e a nossa #MADFdiaAZUL. Faça com que
todos os seus amigos pensem, nem que por um segundo, sobre o autismo. Ajude-nos
a fazer deste dia, um dia diferente.
Aproveitem e também participem da nossa promoção valendo um livro!!
Saiba mais em "promoções" dentro da nossa fanpage do facebook!
https://www.facebook.com/muitoalemdasfraldas
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Divulguem
essa entrevista feita de coração aberto...
O
olhar honesto de uma mãe sobre seu filho é o tipo de coisa que tem poder
infinito na luta contra o preconceito e totalmente a favor da informação, pense
nisso!
Amanhã,
seremos todos azuis.
Por
Tatinha N.
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