Na era da comunicação, em que muitas vezes andamos mais
conectados ao mundo do que à nossa própria vida, nós pais, vivemos com a culpa.
Culpa por não alcançarmos as metas impostas por nós mesmos em relação aos
nossos filhos. Vivemos culpados por não termos tempo de sentar no chão com eles
e nos despirmos do adulto careta que nos tornamos e dar não somente a eles mas, a nós mesmos, a chance de por alguns minutos voltarmos à infância e acreditarmos
que aquela cabana de lençol em cima das nossas cabeças é mesmo o telhado de aço da nossa
fortaleza, cujos monstros mais fortes podem vir e soprar com toda a força que jamais conseguirão derrubá-la.
Nos falta coragem pra acreditar que, apesar de termos crescido
para as responsabilidades que permeiam a vida, por dentro ainda somos inocentes
e bastante infantis...Sentimos vergonha de externar nossas fantasias, acreditar
que as fadas do dente de alguma forma até existem e que devemos ganhar alguma
recompensa por algo que com tanto afinco realizamos, e o nosso trabalho é a
maior prova disso! Nos tornamos adultos e esquecemos o que nos fazia
realmente felizes quando crianças. É, pois é, aposto que não era nada de valor financeiro
muito alto e que com um pouco de tempo e boa vontade não desse para realizar.
Afinal, a infância é a única fase na nossa vida em que tudo se constrói com
papel, um pouco de cola, tintas coloridas, barro, massinha e muita imaginação.
Recordo-me de um
brinquedo que ganhei sem pedir. Meus pais compraram porque acharam que eu ia me
alegrar e, na verdade, alegrou. Mas, não porque o brinquedo era muito legal,
não. O que alegrou foi o simples fato de poder brincar junto dos meus pais. Esse
brinquedo vinha numa caixa e trazia dentro de si um saquinho com pó para gesso,
moldes no formato dos personagens Disney e tintas para colorir, simples assim. Todos
juntos, em família, preparamos a massa que, com cuidado, despejamos nas
forminhas e depois de algumas horas de espera pudemos também pintar. Fizemos
pequenas estátuas do Pateta, do Pato Donald e até do Mickey!
- "O meu ficou mais lindo que o seu", disse minha mãe
para o meu pai e ele, se defendendo, respondeu:
- "É tudo uma questão de ponto de vista! O meu ficou
especial por ter sido feito por mim"! (risos)
Eu, sinceramente, não lembro a cor da caixa do brinquedo, mas
aquela cena em família foi o melhor de TODOS os presentes que ganhei, foi o que
realmente ficou guardado na memória, recordo-me com carinho até hoje e não foi
preciso de muito para me fazer feliz.
Entretanto, tamanha
simplicidade se destoa em meio à loucura que vemos nas lojas de brinquedos.
Aqui em São Paulo, na região da 25 de março, o trânsito trava, avistamos de
longe multidões de pessoas alucinadas nas lojas à procura de promoção. Todos os
anos o telejornal entrevista algumas destas pessoas e pergunta: o que irá
comprar para as crianças hoje? E a resposta circunda sempre os nomes dos
brinquedos que fazem propaganda na TV. Nunca ouvi ninguém que respondesse que mais importante do que o brinquedo é passar o dia juntos. Ou que iria comprar
um brinquedo que desse para se divertirem em família.
Nessas horas, a cena do filme: “Um Herói de Brinquedo”, que
assisti muitas vezes, confesso, cai como luva: mostra o pai (um cara super
ocupado com o trabalho que esquece de comprar o presente de natal do filho com
antecedência e acaba sofrendo horrores para encontrar o tão sonhado brinquedo
em plena véspera de natal) numa fila quilométrica para entrar numa loja de
brinquedos em busca do fenômeno de vendas do momento, um boneco de ação
chamado: "Turbo Man". Inconformado com o tamanho da fila, ele força a
entrada e encontra outro pai (um carteiro que só está naquela fila, naquele
dia, porque não teve tempo de comprar o presente do filho antes devido a
demanda de entregas de natal) que faz um desabafo dizendo que as indústrias
de brinquedo aliadas às agências de publicidade, são verdadeiros
"cartéis" que lucram milhões para convencer as crianças que precisam
de determinado brinquedo e convencem-nas a tal ponto que o filho vem pedindo o
brinquedo ao pai, já usando o discurso que se ele não ganhar será um
fracassado! E o pai, coagido à compra, mesmo sem ter dinheiro, acaba comprando.
Depois de uns dias, o brinquedo quebra e o pai frustrado (às vezes nem terminou
de pagar) não pode nem consertar, porque o brinquedo é de plástico e não vendem
peças de reposição. (Confesso que agora sendo mãe e sentindo na pele tudo isso, eu
concordo com o cara! risos).
Não muito diferente da ficção, nessas épocas de Dia das Crianças
e Natal, principalmente, vemos pais literalmente financiando brinquedos mais
caros que o orçamento doméstico para alegrar crianças que mal sabem falar, mas
aprenderam a pedir. E também pais que tem condições de comprar a loja inteira,
se fosse o caso, mas que desconhecem os gostos dos próprios filhos, pois os
deixam impiedosamente de lado para dedicar-se ao trabalho e usam da desculpa
que só trabalham para oferecer O MELHOR para eles. Entretanto, na realidade,
nem imaginam que o quê os filhos mais desejam é tão somente um contato um maior,
um esconde-esconde, uma historinha antes de dormir, um carinho, um abraço... No
caso dos adolescentes, uma conversa franca... Isso tudo é muito valioso! Mais
do que parece e alguns deixam-se enganar apenas pelo preço dos brinquedos.
Muitas crianças estão carentes do amor de seus pais, muito mais
do que de presentes, algumas estão desejosas de algo sem valor financeiro
agregado, mas com um incalculável valor afetivo. Algo muito simples e
extremamente memorável: passar um dia efetivamente com os pais, divertindo-se
em meio a descontração e ALEGRIA! Criança precisa de pouco para ser feliz, não
precisa de IPad, IPhone, vídeo game de última geração. Meninas não precisam de
acessórios caríssimos para as suas bonecas, elas precisam de amor, de cuidados,
de carinho para elas mesmas...Por isso, nesse dia das crianças, seja mais
presente e não se preocupe tanto com os presentes.
Garanto que muito
mais valerá os momentos divertidos em família do que os brinquedos caros,
comprados e muitas vezes parcelados em 12x no cartão. Tente fazer um
almoço com a ajuda das crianças, uma comida de mentirinha nas panelas de
brinquedo da sua filha, quem sabe um tanque de guerra para os meninos com as
cadeiras da mesa de jantar? Permita-se a, pelo menos um dia, esquecer da
bagunça de casa, permita-se ser criança junto de seus filhos!
O amor não é vendido em loja, para ele não tem promoção nem desconto,
não existe parcelamento. O amor não se compra com dinheiro, cartão, boleto ou
cheque. Nem com o alto dólar! (risos). O amor se sente estando perto,
compartilhando momentos. O amor é cultivado com tempo, com carinho, com
dedicação. Depois eles crescem e se tornam adultos e quando você olhar para
trás, tudo já terá passado e nem mesmo as lembranças restarão em sua memória...
Isso é muito triste, por isso APROVEITE enquanto há tempo!
Neste dia das crianças (e nos que se seguirem ao longo de sua vida), preocupe-se em SER mais presente e não tanto com os presentes! Fica a
dica do Muito Além das Fraldas:
Sejamos crianças junto às crianças, sejamos FELIZES!!!
Por Bruna Chufuli - Nos acompanhe clicando AQUI e curtindo nossa página no facebook.
Cena do Filme "O amor não tira férias"
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