Toda semana passo no mercado rapidinho para comprar alguma
coisa “essencial” que esqueci da última vez. Logo que entrei, me deparei com
uma mãe dando pito na filha, que devia ter uns 7 anos: “Não adianta chorar,
chorar não vai fazer mudar sua nota!”.
Logo me lembrei de um caso icônico da minha infância,
nessa mesma idade, quando a mãe de um amiguinho do colégio bateu no filho, na
escola mesmo, quando soube das suas notas baixas durante uma reunião de pais.
O menino, lembro bem, arrancava os cabelos enquanto apanhava.
“Eu sou muito burro mesmo!” deve ter sido a mensagem cicatriz deixada na sua
mente. Para aquela mãe, a escolha certa era fazer o filho passar vergonha na
frente de todo mundo, porque bater em casa, sem a humilhação pública, não seria
mesmo tão eficiente.
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Fato era que, naquela época, bater era normal. Fazia ainda parte
da “educação infantil” utilizar de outros recursos para “doer mais”. Da palmada
para a famosa chinelada era um passo. Certeza que essa era a segunda utilidade
mais frequente das Havaianas, isso sem falar em varadas e cintadas... Já, hoje,
uma cena dessas, iria da escola direto para
o Youtube, viralizando nas redes ao
ponto de ganhar destaque no Fantástico.
Mas, voltando ao mercado, palco de muitas bizarrices familiares
ao redor do mundo (de pai que prende o cabelo da filha no carrinho – essa tá quente
porque viralizou essa semana – até birras homéricas de crianças esperneando no chão) comprei minhas coisinhas
e acabei encontrando novamente mãe e filha na fila do caixa.
E a mãe continuava o sermão, “pára de chorar, tem que
estudar, tem que se esforçar mais!” e criança, acuada, tentava conter as
lágrimas. Quis mesmo dar um abraço nela... Mas, só consegui dar um sorrisinho de solidariedade para a menina, ainda com medo de a mãe ficar brava com a minha pequena tentativa de conforto.
Se aquela mãe estava certa ou errada, não sei. O que vi e
ouvi são pequenos fragmentos de uma
história familiar que não conheço. Porém, o que realmente me incomodou foi o fato do
sermão ter sido longo e público com o contundente intuito de “doer mais”.
Cinthia Fontoura
Mãe de 3
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